Vou fechar as janelas porque venta muito, não fecho as cortinas, gosto do que vejo atrás delas, o que se esconde entre quatro paredes pode ter os dois lados revelados, o que vê e o que observa silenciosamente deixando a sua imaginação gritar. O olhar inerte reflete-se no vidro que começa a embaçar pela respiração ofegante, a boca declara-se abertamente sedutora, o gosto busca sais na saliva e o olfato aprimora-se causando um devaneio eloquente, estou vendo, sentindo, é real e me faz o prazer só olhar. Em clausura a estes pensamentos, não ouso buscar a identidade destes que tomaram conta do meu exílio, não sinto culpa, só desejo, e saber tudo pode dispersar a curiosidade, torna o momento comum, não haverá a magia nem mesmo aquele aceleramento que faz o peito crescer, as pernas dobrarem, o arrepio temeroso do medo de ser descoberta a minha identidade também, não é essa cumplicidade que eu quero, prefiro o medo do escuro, do momento seguinte, do arrependimento de não ser eu ali em frente, que pena... Será que o tempo ainda pode me dar uma chance de ser livre o bastante pra cometer essas doces loucuras em par? Dispenso fechar as janelas, pode ventar ventania, nem luz demais, nem luz de menos, sem hora, sem tempo , apenas música nos meus ouvidos, ainda que seja de alguém sussurrando, da cama gemendo, ou simplesmente e principalmente, de um bom e velho rock’n roll.

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