E quem nunca ouviu a expressão: “vão-se os anéis, ficam-se os dedos”? As mãos sempre presentes no nosso cotidiano, nas expressões, nos lamentos, secando as lágrimas, falando por nós, em silêncio, com um peso maior que o nosso próprio corpo é capaz de aguentar, abatendo profundamente a nossa vida como se carregassem sozinhas toda a dor do mundo. As mãos que alinhavam um simples botão, nos veste e nos ajeita de maneira que parecemos melhor do que realmente somos, a única parte independente que toca nosso corpo por inteiro, escondendo nossas imperfeições caricatas, dá um jeito no cabelo e se em algum lugar lhe falta jeito, perfeito é o efeito que ela arranja pra nossa aparência disfarçar. As mãos, tolerantes quando pedem para outras mãos parar, irresponsáveis empunhando armas pesadas, leves, brancas, fatais, tais como um leve corpo de caneta, rigidamente apontado para decisões que valham muito mais que muitas outras mãos possam pagar, e impunimente ela provavelmente repousará acompanhando agora, junto ao olhar, novas leis, ordens, desordens de um mundo louco que pedem urgências em suas ingerências, o mundo anda precisando de outras mãos. E Deus que por hora, olha por nós, também deve ter suas mãos elevadas bem altas, sobrecarregadas de tantos pedidos à sua mão pairar... E ela de novo, ´em uma, duas, quatro, centenas ou milhares, regendo, tocando, sutilmente, artisticamente, delicadas nos seus movimentos que se misturam a expressões exageradas, quase esquizofrênicas, num solo de cordas, notas, gemidos, sorrisos, imparciais, calorosos, banais e também cheio de sentimentos confusos pra levar das mãos do músico o êxtase que chega até você.
Não cale as mãos que benzerão seus corpos, que irão registrar seus melhores ângulos compartilhados à outras mãos que afagam seu corpo, que pedem silêncio, que curam, que lhe fazem bailar alegremente, que constroem os alicerces guardiões da sua pouca ou vasta riqueza, no pico da noite devorando páginas que lhe tiram o sono, porque prazer não tem hora pra acabar, e mesmo quando você se sentir sozinho, alguém apontará um amuleto, uma imagem, uma chance, para que você se sinta seguro e possa caminhar sem medo, é certo que a seu tempo, algum motivo lhe espera, dê sua mão a alguém a quem você possa ajudar.

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